Fabaceae

Dalbergia cearensis Ducke

Como citar:

Eduardo Fernandez; Eduardo Amorim. 2020. Dalbergia cearensis (Fabaceae). Lista Vermelha da Flora Brasileira: Centro Nacional de Conservação da Flora/ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

NT

EOO:

739.734,924 Km2

AOO:

532,00 Km2

Endêmica do Brasil:

Sim

Detalhes:

Espécie endêmica do Brasil (Flora do Brasil 2020 em construção, 2018), com ocorrência nos estados: BAHIA; CEARÁ; MARANHÃO; PARAÍBA; PERNAMBUNCO; PIAUÍ; RIO GRANDE DO NORTE; MINAS GERAIS.

Avaliação de risco:

Ano de avaliação: 2020
Avaliador: Eduardo Fernandez
Revisor: Eduardo Amorim
Critério: A3d
Categoria: NT
Justificativa:

Árvore de até 10 m, endêmica do Brasil (Flora do Brasil 2020 em construção, 2018). Popularmente conhecida por pau-violeta ou violeta, entre outros, foi coletada em Caatinga (stricto sensu), Carrasco, Floresta Estacional Decidual, Floresta Estacional Semidecidual e Savana Arborizada associadas a Caatinga e a Mata Atlântica nos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Minas Gerais (de Carvalho, 1997). Apresenta distribuição muito ampla, ocorrência em múltiplas fitofisionomias florestais e presença confirmada dentro dos limites de Unidades de Conservação de proteção integral. Entretanto, a madeira, muito ornamental e altamente valorizada para uso em marcenaria, também é utilizada para a fabricação de móveis de luxo. A espécie foi e ainda é colhida na natureza e exportada em quantidades (Tropical Plants Database, 2018), o que a levou a ser incluída no apêndice II da CITES (IBAMA, 2016) e potencialmente resultou em extinção local no Ceará (Gariglio et al., 2010). Diante desse cenário de aparente declínio populacional pela exploração histórica de espécies neste gênero na Caatinga, a espécie foi considerada como de Quase Ameaçada (NT) neste momento, pois apesar da sua distribuição ampla, amplitude de habitat, alta representatividade em herbários, presença em Unidade de Conservação e regulamentação específica recente normatizando seu uso e exportação, sabe-se que retirada ilegal de madeira ainda constitui uma realizada em grande parte de sua distribuição, o que pode levá-la a extinção no futuro próximo, caso as pressões antrópicas atuais não cessem ou sejam reduzidas. Recomendam-se ações de pesquisa (distribuição, números e tendências populacionais, impacto da exploração historicamente nos estoques atuais) urgentes a fim de evitar sua inclusão em categoria de ameaça restritiva no futuro próximo.

Último avistamento: 2017
Possivelmente extinta? Não
Severamente fragmentada? Desconhecido

Perfil da espécie:

Obra princeps:

Descrita em: Arch. Jard. Bot. Rio de Janeiro 4: 73. 1925. Popularmente conhecida por pau-violeta ou violeta no Ceará (citação ou voucher), Brazilian kingwood, jacarand-violeta, miolo-de-negro (de Carvalho, 1997)

Valor econômico:

Potencial valor econômico: Sim
Detalhes: A madeira é muito ornamental e altamente valorizada para uso em marcenaria (Tropical Plants Database, 2018). A árvore é altamente recomendada como ornamental (Tropical Plants Database, 2018).

População:

Detalhes: A espécie apresenta distribuição espacial agregada na RPPN Não me deixes (município de Quixada - Ceará), onde em 4 ha foram amostrados 80 indivíduos adultos (20 indivíduos/ha) (Nogueira et al., 2014). A espécie foi registrada com 45 indivíduos com diâmetro maior ou igual a 9 cm, em estudo fitossociologico publicado em 2011, em uma área 1 ha de floresta Estacional da Reserva Natural Serra das Almas, Crateús, Ceará (Lima et al., 2011). Foram amostrados 10 indivíduos da espécie O Inventário Florestal de Minas Gerais realizado em 2003-2005, amostrou apenas 10 indivíduos de D. cearensis, exclusivamente na fitofisionomia de Cerrado Sensu Stricto com CAP ≥ 15,7 cm, em uma área amostrada de 140,285ha (Mello et al., 2008).
Referências:
  1. Nogueira, F.C.B., Medeiros Filho, S., Baldoni, R.N., e Silva, T.A.S., 2014. Is the Seed Dispersal Related to Spatial Pattern of Individuals in Populations? The Case of Dalbergia cearensis. Am. J. Plant Sci. 5, 2997–3004.
  2. Lima, J.R., Sampaio, E.V. de S.B., Rodal, M.J.N., Araújo, F.S., 2011. Physiognomy and structure of a seasonal deciduous forest Jacira Rabelo Lima 2 , Everardo Maria Jesus Nogueira Rodal e Francisca Soares Araújo Abstract The Brazilian semiarid region is dominated by caatinga . However , other vegetation formations occur , i. Rodriguesia 62, 1–11.
  3. Mello, J., Scolforo, J., Carvalho, L., 2008. Composição florística dos fragmentos inventariados, in: Inventário Florestal de Minas Gerais: Floresta Estacional Decidual - Florística, Estrutura, Diversidade, Similaridade, Distribuição Diamétrica e de Altura, Volumetria, Tendências de Crescimento e Manejo Florestal. Editora UFLA. Lavras, p. 266.

Ecologia:

Substrato: terrestrial
Forma de vida: tree
Biomas: Caatinga, Mata Atlântica
Vegetação: Caatinga (stricto sensu), Carrasco, Floresta Estacional Decidual, Floresta Estacional Semidecidual
Fitofisionomia: Floresta Estacional Decidual Aluvial, Floresta Estacional Semidecidual, Savana Arborizada
Habitats: 1.5 Subtropical/Tropical Dry Forest
Detalhes: Árvores de 5-10 m de altura (Lorenzi, 2009), ocorrendo nos domínios da Caatinga e Mata Atlântica (Flora do Brasil 2020 em construção, 2018).Ocorre em vegetação de Caatinga (stricto sensu), Carrasco, Floresta Estacional Decidual, Floresta Estacional Semidecidual (Flora do Brasil 2020 em construção, 2018)
Referências:
  1. Fabaceae in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB79037>. Acesso em: 16 Nov. 2018
  2. Lorenzi, H. 2009. Arvores Brasileiras - Vol 3, 1st ed. Editora Plantarum

Ameaças (4):

Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 2 Agriculture & aquaculture habitat past,present,future national very high
Tradicionalmente, a região Nordeste destacava-se pela produção de cana-de-açúcar cultivada sobre a Caatinga (Kohlhepp, 2010). Apesar disso, a região não apresentava bons níveis de produtividade devido as suas condições ambientais (Kohlhepp, 2010; Waldheim et al., 2006). A partir de diversos incentivos governamentais, do crescente interesse na produção de biocombustíveis (Gauder et al., 2011; Kohlhepp, 2010; Koizumi, 2014; Loarie et al., 2011) e da aplicação de novas técnicas de produção, dentre elas a irrigação e melhoramento de cultivares, o cultivo de cana-de açúcar passou a expandir sua área de cultivo (Costa et al., 2011; Ferreira-Junior et al., 2014; Loarie et al., 2011; Silva et al., 2012). Similarmente, a região destaca-se na produção de algodão (Borém et al., 2003; Vidal-Neto e Freire, 2013), frutas (Vidal e Ximenes, 2016) e, nas últimas décadas, o cultivo de soja tem expandido (Sanches et al., 2005).
Referências:
  1. Borém, A., Freire, E.C., Penna, J.C.V., Barroso, P.A.V., 2003. Considerations about cotton gene escape in Brazil: a review. Crop Breed. Appl. Biotechnol. 3, 315–332.
  2. Costa, C.T.S., Ferreira, V.M., Endres, L., Ferreira, D.T. da R.G., Gonçalves, E.R., 2011. Crescimento e produtividade de quatro variedades de cana-de-açúcar no quarto ciclo de cultivo. Rev. Caatinga 24, 56–63.
  3. Ferreira-Junior, R.A., Souza, J.L. de, Escobedo, J.F., Teodoro, I., Lyra, G.B., Araújo-Neto, R.A. de, 2014. Cana-de-açúcar com irrigação por gotejamento em dois espaçamentos entrelinhas de plantio. Rev. Bras. Eng. Agrícola e Ambient. 18, 798–804.
  4. Gauder, M., Graeff-Hönninger, S., Claupein, W., 2011. The impact of a growing bioethanol industry on food production in Brazil. Appl. Energy 88, 672–679.
  5. Kohlhepp, G., 2010. Análise da situação da produção de etanol e biodiesel no Brasil. Estud. Avançados 24, 223–253.
  6. Koizumi, T., 2014. Biofuels and Food Security in Brazil, in: Koizumi, T. (Org.), Biofuels and Food Security. Springer, Heidelberg New York Dordrecht London, p.13-29.
  7. Loarie, S.R., Lobell, D.B., Asner, G.P., Mu, Q., Field, C.B., 2011. Direct impacts on local climate of sugar-cane expansion in Brazil. Nat. Clim. Chang. 1, 105–109.
  8. Sanches, A.C., Michellon, E., Roessing, A.C., 2005. Os limites de expansão da soja. Inf. GEPEC 9, 1–21.
  9. Silva, T.G.F., Moura, M.S.B., Zolnier, S., Carmo, J.F.A., Souza, L.S.B., 2012. Biometria da parte aérea da cana soca irrigada no Submédio do Vale do São Francisco. Rev. Ciência Agronômica 43, 500–509.
  10. Vidal-Neto, F. das C., Freire, E.C., 2013. Melhoramento genético do algodoeiro, in: Vidal-Neto, F. das C., Cavalcanti, J.J.V. (Orgs.), Melhoramento genético de plantas no Nordeste. Embrapa, Brasília, p. 49–83.
  11. Vidal, M. de F., Ximenes, L.J.F., 2016. Comportamento recente da fruticultura nordestina: área, valor da produção e comercialização. Cad. Setorial ETENE 1, 18–26.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 2.3 Livestock farming & ranching habitat past,present,future national very high
A pecuária é uma das principais fontes de renda e subsistência para os habitantes da Caatinga (Antongiovanni et al., 2018). Em geral, bovinos, caprinos e ovinos são criados em regime de liberdade, tendo acesso à vegetação nativa como base de sua dieta (Marinho et al. 2016). Na Caatinga e em outras regiões semiáridas, o pastejo tem sido associado à compactação do solo, redução na sobrevivência de plântulas e mudas, consumo de biomassa de dossel, alteração da riqueza e composição das plantas (Marinho et al. 2016). Além disso, a sinergia entre o efeito do gado pastando em remanescentes semiáridos e a invasão de espécies exóticas tem sido relatada (Hobbs, 2001). A pecuária é um distúrbio crônico na Caatinga que tem efeitos negativos sobre a diversidade de plantas (Ribeiro et al., 2015).
Referências:
  1. Antongiovanni, M., Venticinque, E.M., Fonseca, C.R., 2018. Fragmentation patterns of the Caatinga drylands. Landsc. Ecol. 33, 1353–1367.
  2. Marinho F.P., Mazzochini G.G., Manhaes A.P., Weisser W.W., Ganade G., 2016. Effects of past and present land use on vegetation cover and regeneration in a tropical dryland forest. J. Arid Environ. 132:26–33.
  3. Hobbs R.J., 2001. Synergisms among habitat fragmentation, livestock grazing, and biotic invasions in southwestern Australia. Conserv Biol 15:1522–1528.
  4. Ribeiro, E.M.S., Arroyo-Rodríguez, V., Santos, B.A., Tabarelli, M., Leal, I.R., 2015. Chronic anthropogenic disturbance drives the biological impoverishment of the Brazilian Caatinga vegetation. J. Appl. Ecol. 52, 611–620.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.2 Ecosystem degradation 5 Biological resource use habitat past,present,future national very high
A extração de madeira para carvão, construção civil e uso doméstico tem sido uma ameaça generalizada à Caatinga por muitos séculos. O uso industrial das árvores da Caatinga para a produção de carvão, que é parcialmente feito de forma ilegal e descontrolada, contribui fortemente para modificar a densidade e a estrutura da vegetação remanescente (Gariglio et al., 2010). O uso de madeira e carvão para uso doméstico (por exemplo, forno a lenha) também não é desprezível, correspondendo a 30% do que é extraído anualmente (Gariglio et al., 2010).
Referências:
  1. Gariglio, M.A., Sampaio, E.V. de S.B., Cestaro, L.A., Kageyama, P.Y. (Orgs.), 2010. Uso sustentável e conservação dos recursos florestais da Caatinga. Serviço Florestal Brasileiro, Brasília, 368 p.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
2.1 Species mortality 5.2.1 Intentional use (species being assessed is the target) locality,mature individuals past,present,future regional very high
A espécie utilizada para a fabricação de móveis de luxo, foi e ainda é colhida na natureza e exportada em quantiddes (Tropical Plants Database, 2018). Historicamente, árvores grandes e maduras da Caatinga eram altamente valiosas ao ponto de serem suprimidas a virtualmente desaparecerem da paisagem (Gariglio et al., 2010).
Referências:
  1. Gariglio, M.A., Sampaio, E.V. de S.B., Cestaro, L.A., Kageyama, P.Y. (Orgs.), 2010. Uso sustentável e conservação dos recursos florestais da Caatinga. Serviço Florestal Brasileiro, Brasília, 368 p.
  2. Tropical Plants Database, 2018. Ken Fern tropical.theferns.info. tropical.theferns.info/viewtropical.php?id=Vataireopsis+araroba. (acesso em 17 de novembro 2018).

Ações de conservação (2):

Ação Situação
1 Land/water protection on going
Uma população foi estudada na RPPN Não Me Deixes (Nogueira et al., 2014)
Referências:
  1. Nogueira, F.C.B., Medeiros Filho, S., Baldoni, R.N., e Silva, T.A.S., 2014. Is the Seed Dispersal Related to Spatial Pattern of Individuals in Populations? The Case of Dalbergia cearensis. Am. J. Plant Sci. 5, 2997–3004.
Ação Situação
5.1.1 International level on going
Na última Conferência das Partes da Cites (Convenção Internacional sobre Comércio de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora), realizada em outubro de 2016, na África do Sul, foi aprovada proposta para inclusão do gênero Dalbergia spp. no apêndice II da CITIES (IBAMA, 2016). Todos os produtos de madeira do gênero Dalbergia que entrarem ou saírem do país deverão estar acompanhados de licenças Cites, exceto folhas, flores, pólen, frutos e sementes. O documento também não é necessário em casos de exportação com fins não comerciais que tenham um peso total máximo de 10 kg por envio (IBAMA, 2016)
Referências:
  1. IBAMA, 2016. Comércio internacional do jacarandá tem novas regras [WWW Document]. Notícias. URL https://www.ibama.gov.br/noticias/422-2017/923-comercio-internacional-do-jacaranda-tem-novas-regras (accesso em 11 de novembro 2018).

Ações de conservação (1):

Uso Proveniência Recurso
11. Other household goods natural stalk
Uma madeira altamente valorizada, só está disponível em tamanhos pequenos e é usada para aplicações de alta qualidade, como móveis finos, marchetaria, instrumentos musicais, trabalhos de embutir, torneados e artigos de luxo (Tropical Plants Database, 2018). Móveis de Luis XIV e Luis XV feitos com madeira da caatinga nordestina estão representada no museu do Louvre (Globo Rural, 2011). É colhida na natureza e exportada em quantiddes (Tropical Plants Database, 2018).
Referências:
  1. Tropical Plants Database, 2018. Ken Fern tropical.theferns.info. tropical.theferns.info/viewtropical.php?id=Vataireopsis+araroba. (acesso em 17 de novembro 2018).
  2. Globo Rural, 2011. Área de caatinga é preservada por iniciativa de Rachel de Queiroz. http://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2011/10/area-de-caatinga-e-preservada-por-iniciativa-de-rachel-de-queiroz.html (Acesso em 17 de novembro 2018).